Maccabi Tel Aviv 1-3 FC Porto




O FC Porto deslocou-se a Israel para mais um jogo da Liga dos Campeões. Perante um Maccabi claramente inferior à equipa portuguesa, a obrigação de ganhar era clara e os homens de Lopetegui não claudicaram abrindo espaço para que o "sonho" de terminar o grupo em primeiro lugar esteja, cada vez mais, ao alcance dos azuis-e-brancos.

Talvez a inclusão de um "falso-extremo" nem fosse assim tão necessária. Contudo, há mérito na forma como Lopetegui aborda o jogo. A aposta em Tello foi uma aposta ganha. Mais do que uma questão de minutos foi uma questão de sentido. Porque fazia e fez todo o sentido a titularidade do espanhol. Por vezes não é uma questão de um extremo ser melhor do que outro. É mais uma questão de perceber o que é que o jogo pode oferecer e que pode ser explorado por um jogador com determinadas características.

Vitória clara por 3-1, com a equipa azul-e-branca a dominar o jogo e a merecer por completo trazer os 3 pontos para casa. Ainda assim, a exibição apesar de segura continuou a revelar algumas falhas já típicas.


No inicio da construção, o FC Porto continua a revelar um conservadorismo incrível. Aqui, o médio defensivo recebe a bola em zonas bastante recuadas com o adversário atrás do meio campo e repare-se nas linhas de passe que tem. Tem 4 linhas de passe fora do bloco e seguras (Indi não aparece na imagem, mas a quarta linha azul indica a sua linha de passe) que não se afiguram como grandes soluções para progredir no terreno.



Aqui um lance que tem merecido imensos reparos nas ultimas análises aqui efetuadas. Os centrais do FC Porto não conduzem a bola, praticamente. Aqui, Indi tem imenso espaço à sua frente para progredir e poder causar desequilíbrios a partir de trás. No entanto, recusa-se a fazê-lo. O conceito de atrair para depois soltar é algo que claramente assusta os centrais do FC Porto.


Obviamente que este é um lance bastante distinto daqueles que os centrais do FC Porto normalmente enfrentariam, mas dá para perceber a importância da condução. Rúben Neves conduz até fixar dois adversários e depois solta em Aboubakar que fica em excelente posição para rematar ou para colocar em André André. Se não houver condução é muito difícil criar desequilíbrios. E os centrais, por serem defesas, não têm um papel menos importante na manobra ofensiva, são tão importantes como os outros.


Repara-se, mais uma vez, na quantidade de linhas de passe que o FC Porto tem fora do bloco, o 6 baixa logo para dar uma linha de passe praticamente igual à do central e o outro médio, neste caso Evandro, baixa também para fora do bloco. Atente-se no posicionamento de Evandro, se ele estivesse onde a linha azul indica e a bola entrasse nele tirava 3 jogadores do Maccabi do lance com um passe. Assim está ali para ser mais uma linha de passe inócua.



Um aspeto que é fundamental para que se consiga receber a bola entre linhas adversárias é a receção orientada. Aqui Danilo tem tudo para tirar dois jogadores do Maccabi do lance, mas recebe para trás.



Quem parece querer fugir a este paradigma de conservadorismo e pouco risco da defensiva portista é Layún. Veja-se onde vai ele dar uma linha de passe e receber a bola. Perante o posicionamento de Tello e a falta de soluções interiores da equipa, o mexicano percebe onde faz falta uma solução e dá-a ele mesmo.



Nestes dois lances confirma-se a tendência de Layun procurar soluções mais inovadoras e que trazem coisas bastante boas à equipa. No primeiro lance faz um movimento pela zona central sem bola em que leva o lateral adversário com ele e permite a Tello receber sem pressão e no segundo movimento conduz a bola pela zona central do terreno criando um desequilíbrio.



Lopetegui colocou André André a fazer de extremo e isso acaba por trazer grandes vantagens ao jogo interior do FC Porto porque o português procura imensa bola dentro oferecendo a linha a Maxi.


Aqui percebe-se a importância de ter um jogador a pisar estes terrenos. André André a dar linha por dentro, a receber a bola e depois a conseguir colocar em Evandro que se encontrava sem pressão em posição frontal.
Fica apenas a questão se não seria possível pedir este tipo de movimentos a jogadores mais criativos e desequilibradores que o médio português ou se só ele pode jogar assim a partir da linha.

Percebe-se a intenção do Maccabi (na imagem anterior também) em ter superioridade na zona da bola. A pressão ao portador, porém, é feita de forma deficiente e, para além disso, há um completo desinteresse pela zona central. Há imenso espaço, o mesmo que Evandro tinha na imagem anterior.
Já agora, repare-se na solução que Evandro está disposto a dar (aqui ainda não se percebe mas, um segundo mais tarde, o brasileiro acaba por ganhar espaço suficiente para receber em boas condições).



Quem, apesar da recente falta de produtividade a nível de golos, continua a ter um papel importante na manobra ofensiva é Aboubakar. Não sendo um jogador brilhante a nível de criatividade, está sempre à procura de dar apoios frontais e tenta sempre encontrar soluções com qualidade.



O Porto foi sempre uma equipa dominadora e isso deveu-se também à qualidade com que pressionava. Veja-se a quantidade de jogadores a condicionar a saída de bola adversária.



No entanto quando a pressão era ultrapassada as coisas não corriam muito bem. Veja-se a largura da defesa do FC Porto, a distância entre os defesas é enorme, principalmente na segunda imagem onde temos Maxi quase colado à sua linha com a bola precisamente colada à linha lateral oposta.
Repara-se também no alheamento total do jogo por parte de Tello na primeira imagem.


Pequenos pormenores imperdoáveis. Felizmente foi contra o Maccabi mas imagine-se que o adversário era outro? Este é o primeiro lance de grande perigo que aparece logo no primeiro minuto. Porquê? Mérito do Maccabi? Não... erro de Indi que está mais preocupado com o portador da bola em vez de cortar a linha de passe interior.



O facto de existirem marcações hxh permite que a equipa que tem a bola possa arrastar marcações e libertar espaços para o portador da bola. Depois, atribuem-se culpas aos jogadores quando o problema está mesmo naquilo que o treinador pede. Danilo é arrastado para longe da zona central e deixa Rúben sozinho. O jovem capitão também está, por momentos, preocupado com a sua referência e deixa espaço para a entrada de um jogador do Maccabi. Onde está o erro? O erro está no "trabalho de casa".





Recuperamos a movimentação de Layún para demonstrar duas situações semelhantes e que, para além de demonstrarem a fraca capacidade defensiva do Maccabi também permitem concluir bastante acerca dos comportamentos individuais dos azuis-e-brancos.
Na primeira, Layún (perceba-se a inteligência do mexicano sem a bola) arrasta o lateral e abre espaço para Tello receber completamente à vontade.
Na segunda vemos outro dos grandes destaques da partida (Evandro) a arrastar a marcação e a abrir espaço para Tello. Contudo, André André a tomar uma má decisão que obriga o brasileiro a maiores esforços para entregar em condições a Aboubakar. Sim, o lance até tem um desfecho algo positivo (Aboubakar aparece na cara de Rajkovic) mas não poderia ter um desfecho ainda melhor se a bola tivesse ido diretamente para Tello que só teria de receber a bola sozinho e correr para a baliza?

A pergunta é: porque é que Indi tomou a decisão mais correta e André André a errada? A resposta é simples. Na forma de jogar do FC Porto, Indi está formatado para fazer aquilo. O holandês nem sabe se fez bem ou mal. Simplesmente... fez o que o treinador lhe pede muitas vezes. Já André André está formatado para jogar rápido e não para procurar a melhor solução.



Notas individuais:



Evandro não é nenhum prodígio mas é um elemento muito útil no plantel do FC Porto e que poderia dar muito mais do que dá atualmente.
A jogar entrelinhas estava sempre à procura de dar apoio e, acima de tudo, a dar (quase sempre) a melhor solução pela zona central.
Teve, porém, alguns problemas neste jogo em particular. Não tem ritmo nem entrosamento suficiente para conseguir tirar o máximo partido de todos os momentos. Evandro via, muitas vezes, as opções que trariam mais sucesso mas a equipa não correspondia porque está formatada para jogar de uma forma que não vai ao encontro daquilo que o brasileiro pensa.
Ao nível do critério também parece bem melhor do que André André e aqui voltamos, uma vez mais, à questão do jogar rápido ou jogar bem. Não é que Evandro não seja capaz de jogar rápido. Porém, é mais lento de processos do que André André porque procura soluções que o português nem considera. O que é que faz a falta de entrosamento? Atrasa-lhe ainda mais os processos.
No geral, porém, esteve bem e merece mais minutos.



Deus Rúben Neves. Após a recuperação da bola, o capitão afasta-se para o centro do terreno para oferecer outras soluções mantendo-se sempre de frente para a bola de forma a perceber o que está a acontecer. Depois... faz isto:


Análise realizada no âmbito da parceria com o FC Porto24
com a ajuda dos utilizadores BlueHeart e IdolW0rm.
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3 comentários :

  1. Ainda vai colocar a análise ao Porto - Vit. Setúbal?

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    1. Era nossa intenção realizar uma análise ao jogo do FC Porto com o Vit. Setúbal. Mas infelizmente, e tendo em conta que isto é feito como hobbie, não tivemos disponibilidade para tal. Como já passou demasiado tempo também já descartamos essa hipótese.
      Veja a seleção! Se não adormecer a meio :)
      Mas obrigado pelo interesse!

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    2. Ok, tudo bem :)
      Se fosse jogo de qualificação ainda fazia o sacrifício (afinal de contas o Rúben está lá e tal), mas assim não :)

      Continuem o bom trabalho! Os leitores é que agradecem

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