FC Porto 0 - 0 SC Braga




Depois de um período de bonança, a equipa do FC Porto voltou a perder todas as graças. E quando isso acontece, é normal que se dispare em todas as direções à procura de culpados. Porque uma vitória ajuda a esconder uma má exibição individual ou más opções técnicas. Mas os maus resultados motivam, desde logo, a procura de bodes expiatórios. E embora a opinião pública se construa através de uma unanimidade, muitas vezes esses bodes expiatórios acabam por ser os errados. Dificilmente se verá a massa adepta portista a culpar Rúben Neves ou André André. Mesmo que estes falhem mais do que os outros (não estamos a dizer que foi o caso, atenção).

O grande culpado, por mais ou menos culpas que tenha, já foi aqui identificado há muito tempo. Mesmo em alturas de resultados positivos. Porque encontrar culpados nos resultados menos positivos é fácil mas referir falhas apesar das vitórias já é mais difícil.

O FC Porto empatou por culpa própria. Mas não só. Querer retirar mérito ao Braga seria uma grande desonestidade. A equipa de Paulo Fonseca organiza-se bastante bem defensivamente. E foi aí que o treinador português acreditou estar a chave para um resultado positivo no Dragão. Conseguiu-o porque limitou  e controlou grande parte do jogo portista.

Atenção: A partir de agora, estejam atentos ao que o FC Porto consegue fazer quando as equipas adversárias jogam com uma linha defensiva média-alta.


O FC Porto não muda. Os extremos têm de estar sempre colados à linha e é nessas zonas que devem receber e criar. Nesta situação, Aboubakar recebe (e bem) entrelinhas à procura de combinar com André André. Aprecie-se o espaço criado e o desaproveitamento do FC Porto. Poderia ser circunstancial mas... não é.

Mas há mais para além disso. Na imagem aparecem 9 (+ GR) jogadores do SC Braga. Do lado dos azuis-e-brancos, há quatro jogadores envolvidos no ataque. O que podem Imbula e Danilo oferecer ali? A culpa é dos jogadores? Não, é do treinador. A partir do momento em que isto é sistemático, independentemente dos jogadores que lá estão, torna-se fácil atribuir as culpas.


Agora, veja-se o que acontece. Danilo e Imbula a garantir coberturas para uma eventual perda de bola mas pouca agressividade na abordagem ao lance. Para quê ter tantos jogadores atrás da linha da bola se depois pouco se faz para a recuperar?
Imbula tem características físicas que lhe concedem um grande potencial defensivo. Só não tem o treinador certo para as potenciar.


Qualquer semelhança com outras imagens já partilhadas neste blog é pura coincidência... Já agora, aprecie-se Brahimi e Cissokho.


E quando se pensa que não pode piorar...



Enorme distância entre setores com e espaço para os jogadores do setor intermédio bracarense receberem à vontade. Na primeira imagem há até uma jogada de grande potencial mas uma má opção do portador da bola coloca a bola longe daquela zona.



Algo que não é costume ver-se nos médios do FC Porto. O privilégio do corredor central. Como não há opções ou as probabilidades de sucessão são reduzidas, Imbula acaba por lateralizar. Fica a intenção de, em primeira instância, procurar o corredor central.


Ao contrário do que acontece nesta situação em que Aboubakar recua para oferecer apoio. André André tem imenso espaço mas o avançado portista privilegia o corredor lateral onde surge Brahimi.




Início do momento ofensivo. Casillas com a bola na mão, três opções de passe (sendo que duas estão na mesma zona do terreno e nem procuram dar largura. Estão 4x0 naquela zona e é possível sair com a bola controlada.

Para quê colocar tantos jogadores ali se a opção passa por um passe longo para um denominado jogador-alvo? A opção até poderia ser boa. Numa situação rara, noutro jogo que não este e contra uma equipa com nível distrital.
Aprecie-se a forma como os jogadores do Braga se movimentam. A situação é simples: Brahimi está de costas e prepara-se para receber uma bola longa:
- Baiano pressiona de imediato de forma a condicionar a ação do argelino e impedir que este possa dominar e virar-se de frente para o jogo;
- Alan aproxima-se da zona de ação e procura limitar o passe atrasado para Cissokho;
- Vukcevic coloca-se de imediato em zonas interiores, oferecendo cobertura e à procura de impedir que Brahimi possa colocar a bola entrelinhas dentro do bloco.
Um triângulo perfeito. Quem disse que falta organização a este Braga e que o FC Porto só perdeu por culpa própria?



Linha defensiva média-alta e a defender a zona central. Alan a dar ajuda a Baiano. Quando a bola caía num dos extremos do FC Porto, era natural ver-se o lateral à espera do apoio do extremo.
Como os laterais azuis-e-brancos raramente procuram fazer um movimento de rotura pelas costas do extremo, de forma a confundir os adversários, era normal ver-se os extremos do FC Porto com duas soluções de sucesso bastante reduzido: 1 - partir para a jogada individual e enfrentar 2 ou mais adversários; 2 - passar para trás, para o lateral. Layún cruzou muitas vezes mas sempre de forma inofensiva.

Atente-se também na liberdade que Marcano tem para progredir. Os avançados do Braga tinham ordens para limitar a construção ao pressionar o central ou o médio portadores da bola. Neste caso, como a bola "correu" mais do que os avançados bracarenses, foi possível a Marcano progredir no terreno. Mas o que fazer a partir daí? O FC Porto não está preparado para tal porque os centrais não são treinados para tal.



O treinador treina mas os jogadores é que jogam. Layún ensina como se faz... Condução pelo corredor central, fixa os adversários e toma a decisão correta. Mas há dois erros neste lance e há, contudo, quem atribua mais culpas a Brahimi do que ao mexicano:
1 - O passe de Layún deveria ter ficado mais curto para que Brahimi se pudesse enquadrar de imediato com a baliza oferecendo-se a possibilidade do remate de primeira;
2 - O domínio de Brahimi que, apesar de tudo, foi conseguido já em esforço.




O Braga é uma equipa organizada. E não é por acaso que a contenção acaba na linha imaginária criada pela marca da grande penalidade.



Por onde é que se cria perigo mesmo? Quatro jogadores do Porto entrelinhas e o pânico instalado na defensiva bracarense. Bueno arrasta o central e Tello com mais do que espaço para procurar a profundidade.




Aqui uma situação que já foi referida em análises prévias. O FC Porto não se prepara para defender os cruzamentos adversários. Aqui se a bola fosse cruzada Indi encontrar-se-ia numa situação de 1x1. É inconcebível não haver superioridade numérica numa situação de cruzamento. Repara-se no posicionamento completamente descabido de Layún e mais uma vez na distância entre os centrais.




Início da construção

Zona central

Nestes dois lances é possível ver a falta de soluções no FC Porto aquando da saída de bola. Os azuis-e-brancos colocam bastantes jogadores fora do bloco e privilegiam, claramente, o jogo pelos flancos. Aqui, Danilo com duas precipitações em grande parte causadas pelo que é pedido aos jogadores a fazer dois passes disparatados. Repara-se que na primeira situação ainda que a bola entrasse bm em Tello, este ficaria rodeado de adversários junto à linha lateral, sendo a probabilidade de perder a bola altíssima. A questão é: o que se ganha com este tipo de iniciativas ainda que o jogador que realiza em passe seja o melhor jogador do mundo a fazer passes longos? A resposta é: praticamente nada.




Aqui vê-se um exemplo de como sair a jogar com qualidade. A bola entra no médio defensivo e este tem várias soluções entrelinhas. Muito bem aqui, Danilo, com um excelente passe a retirar vários jogadores do Braga do lance. Com um simples passe, André André e Aboubakar na zona central e de frente para a linha defensiva. É melhor tentar ultrapassar dez ou é melhor tentar ultrapassar dois?



Outro dos problemas que o FC Porto tem na construção é o recuar do 6 para o meio dos centrais quando isso é claramente desnecessário e pouco acrescenta ao jogo. Aqui, Danilo dá exatamente a mesma linha de passe que Indi. Para quê? Quando podia estar a dar uma linha de passe mais avançada (no lugar de Imbula, por exemplo) que permitisse, caso a bola entrasse nele, retirar jogadores do Braga do lance. Para além disso, poderia também estar a condicionar a ação da linha avançada ao criar uma preocupação adicional aos avançados

Mas então é sempre errado o 6 baixar para junto dos centrais para sair a jogar? Não, claro que não.
Nesta imagem, Danilo adota um posicionamento correto na saída de bola portista. Perante uma situação em que os dois avançados do Braga se preparavam para pressionar os dois centrais portistas, criando uma situação de 2x2. Danilo baixa criando uma situação de 3x2, permitindo que haja superioridade numérica e condições para sair a jogar com segurança e qualidade. Nestas situações o 6 deve claramente baixar.


Zona lateral

Outro dos defeitos recorrentemente (e bem) apontado à saída de bola portista é o posicionamento dos laterais. Normalmente os laterais azuis-e-brancos colocam-se na mesma linha que o central dando-lhe uma linha de passe apenas em largura e muito baixa que tem pouca ou nenhuma utilidade. É o que faz Cissokho na imagem. O francês está na mesma linha que Marcano quando este não está pressionado e não precisa de uma linha de passe segura do lateral. Justificava-se que o lateral subisse bem mais.





No entanto do lado direito isso já não se verificou como se pode ver nestas imagens. Layún optou sempre por dar linhas de passe mais avançadas e com muito mais qualidade que Cissokho. Para além disso observe-se nas imagens que Tello (de forma inteligente) tinha a preocupação de dar o corredor ao lateral, atraindo e arrastando o lateral adversário para zonas mais interiores.







Análise realizada no âmbito da parceria com o FC Porto24
com a ajuda dos utilizadores BlueHeart e IdolW0rm.
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4 comentários :

  1. É bem visto, mas olhe que, ao contrário do que escreve, o FCP não perdeu.

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    1. Tem toda a razão, Paulo. Já foi corrigido.

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    2. perder, não perdeu mas... x)

      Boa análise novamente.
      Apesar de também ter notado alguns dos defeitos que o Nuno mostrou aqui, fiquei com a sensação de que, pelo menos para o campeonato, este foi o jogo menos mau do Porto até agora. O problema é que esta sensação apenas foi provocada por situações que acho que aconteceram por acaso durante o jogo: André e Bueno a surgirem algumas vezes entre linhas, Danilo a meter passes verticais e a queimar linhas de jogadores do Braga.

      A fase inicial de construção a 4 é ridícula.

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  2. Excelente análise, a expor a nu todas as ( imensas) deficiencias deste FCP á la Lopetegui.

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