FC Porto 4-0 Belenenses





Depois de uma vitória moralizadora frente ao Chelsea, o FC Porto voltou a jogar no Dragão e elevou para 19(!) o número de vitórias seguidas no seu terreno. Perante o seu público, os azuis-e-brancos parecem mesmo gostar do sabor da vitória e o último adversário que saiu derrotado foi o Belenenses de Sá Pinto.



Na primeira parte, era Imbula o encarregado de iniciar a construção. Na primeira imagem, vê-se Rúben Neves atrás do francês. Há necessidade de desperdiçar um talento como Rúben Neves no capítulo do passe? Não. Foi essa a grande diferença para a segunda metade como se pode ver na segunda imagem. Foi aqui que Lopetegui começou a ganhar o jogo.




Brahimi continua a procurar terrenos interiores arrastando marcações. Aqui, apesar de já estar em recuperação, percebe-se que o defesa direito do Belenenses saiu da sua zona. Porém, nenhum dragão procurou o desequilíbrio imediato.


Mas bola acaba mesmo por entrar em Layún, pouco depois. Um dos extremos joga por dentro, neste caso Brahimi, dando o corredor lateral ao mexicano e o outro extremo, dá largura. O problema aqui é que a bola entra mesmo em Layún. Se Maicon mete a bola em Brahimi criaria um desequilíbrio enorme. O chip da lateralização está muito enraizado nos jogadores, é notório que a opção do portador da bola passa muito por este tipo de passes. Seria bem melhor para o FC Porto que se arriscasse mais em passes pelo corredor central a queimar linhas adversárias.



Tem de ser sempre o lateral a dar largura? Não, não tem. O que se pede é que haja sempre dois jogadores em largura total (normalmente os dois laterais) permitindo abrir a equipa adversária. E também não convém ter 4 jogadores a dar largura total(isso acontece bastante no FC Porto), porque se perde demasiadas opções dentro do bloco. Assim, normalmente o extremo joga mais dentro e o lateral fora. Mas nem sempre tem de ser assim, aliás, traz qualidade à equipa que o movimento seja variado. Aqui vemos Layún a fazer um movimento interior e a dar espaço a Brahimi para ir no 1x1. Este tipo de movimentos fazem sentido e devem ser explorados quando se tem um jogador tão forte no 1x1 como o argelino e um lateral destro. Pela primeira vez vimos o mexicano a procurar jogar por dentro também, que seja para continuar pois trará maior variabilidade e qualidade ao jogo dos azuis-e-brancos.



Há no entanto jogadores a quem o chip não precisa de ser mudado, Imbula dá sempre prioridade ao jogo interior, ao passe vertical a rasgar linhas. Seja esse passe feito no início da construção, ou em zonas adiantadas do terreno. Aqui tira 5 jogadores adversários do lance.



Brilhante jogador que tem pormenores de uma qualidade tremenda que passam despercebidos. Aqui recebe numa posição pouco favorável, onde a maioria dos jogadores tocaria a bola no central. Ele não, arrisca, faz uso das suas capacidades técnicas e físicas e enquadra-se com o jogo colocando a bola em Brahimi mais uma vez num passe vertical a procurar jogar dentro do bloco adversário.
Grande exibição do monstro francês.



Recordam-se da primeira imagem? Imbula na mesma linha que Rúben Neves.


Afinal, quem é que oferece apoio e quem é que se coloca entrelinhas? Se Rúben Neves e Imbula ficam para trás e podem oferecer uma linha de passe segura porque é que André André se vai colocar ali? Porque não mais à frente de forma a atrair marcação?



A branco, uma sugestão de passe. Uma sugestão que poderia ser bem melhor caso os extremos não estivessem tão colados à linha. Veja-se o espaço que Maxi e Layún têm à sua frente. Há necessidade de colocar Corona e Brahimi junto à linha? Não era preferível que estivessem mais próximos de Aboubakar para oferecer mais próximos e dentro do bloco?


Foi isso que aconteceu aos 6 minutos da partida. Aboubakar foi engolido no meio de tanto jogador do Belenenses porque não tem apoios próximos com quem jogar.




A preferência pelos corredores. O FC Porto pretende iniciar uma transição rápida e André André entrega a Brahimi. O argelino, enquadrado com a defensiva contrária, pretende explorar espaços interiores e enfrenta-a. O que faz o português? Passa pelas costas deste, colocando-se junto à linha. De que serviria um passe para lá? Era para arrastar João Amorim, o defesa-direito? Mas Brahimi teria de enfrentar mais quatro jogadores depois... (estava a escrever tendo em conta o potencial da jogada e só depois reparei que havia print do desenvolvimento da jogada) Engraçado, João Amorim (de forma correta) preocupou-se em fechar o meio deixando André André livre na ala. Brahimi, afinal teria de ultrapassar cinco(!) jogadores.




Que o FC Porto treinava pouco as bolas paradas, isso já se sabia. Não era preciso era cometer erros destes. Fez-me lembrar este lance que resultou em golo... Já estava 3-0? Estivesse 3-0, 20-0 ou 50-0... Também poderia estar 0-0 e ser um lance capital no jogo!
Já agora, quais são as referências? A bola? O colega? Os postes? As linhas? Vejam o comportamento de Maxi e como surge um jogador do Belenenses livre ao segundo poste.




Brahimi nem se preocupa em correr para o meio onde pode criar mais perigo. Claro que esta sugestão iria depender da frescura física e da velocidade de Brahimi e de João Amorim. Mas não seria bem mais perigoso se Brahimi estivesse mais perto do centro do terreno?




Vejam onde nasce o terceiro golo do FC Porto. Pelos pés do "menino" Rúben Neves. Nestas situações, faz todo o sentido lateralizar o jogo. Tello tinha espaço (também é ele que o procura se estiverem atentos) e ficaria no 1x1. O resto, é talento do espanhol.



Deficiências defensivas:


Foi uma exibição de qualidade do FC Porto mas ainda assim, a nível defensivo principalmente, cometeram-se erros. Aqui vemos uma saída de bola adversária onde a linha defensiva está bastante descoordenada. Primeiro porque o lateral do lado oposto da bola está muito afastado da restante linha defensiva e depois porque a linha defensiva está tudo menos alinhada. O que causa isto? Referências individuais dos laterais. Se o posicionamento de Layún é compreensível, a bola pode perfeitamente entrar no extremo da equipa de Belém e ele está a tentar evitar isso, o de Maxi é inaceitável. Com a bola a entrar na linha do lado oposto ao seu tem que estar próximo de Maicon e alinhado com o mesmo.




As imagens apresentadas não revelam um erro mas sim uma opção estratégica de Lopetegui. Este opta por colocar os extremos a pressionarem os centrais juntamente com os pontas de lança. O que acontece quando a bola entra no lateral e o extremo estava a pressionar no meio? Sobe o lateral para pressionar o outro lateral. É isso que vemos Layún fazer na primeira imagem. Resultado? O buraco que vemos na segunda imagem. 3 jogadores do Belenenses a entrar na zona deixada livre pelo lateral mexicano. O lance não deu em nada porque o passe foi mau, mas uma bola bem metida naquela zona com tantos jogadores adversários podia ter sido bem perigoso.




Aqui vemos uma situação de combinação lateral do Belenenses onde se previa que pudesse surgir um cruzamento. O que fazer nestas situações? Proteger a zona central, tentar condicionar o homem que vai cruzar e tentar preparar a equipa para o cruzamento, tendo superioridade numérica na área. Aqui percebemos que a equipa não se prepara para o cruzamento. A azul os posicionamentos corretos, André baixava para o lugar de Imbula e este juntava-se aos centrais permitindo à equipa ter superioridade numérica na área.




Isso não foi feito e o cruzamento foi tirado estando a equipa em igualdade numérica na área. Algo inadmissível para uma equipa como os dragões. Este foi um lance em que o Belenenses podia ter feito golo devido a um erro individual de Layún. Mas o mais importante a destacar é o posicionamento da equipa e a igualdade numérica na área.


Um lance que começa a tornar-se normal:


Brahimi cria, o problema é que ninguém dá seguimento à jogada. No primeiro gif, uma jogada contra o Chelsea. Nos outros dois, jogadas criadas ainda na primeira parte.  Com tanta gente na área, não há nenhum jogador do FC Porto que compreenda o potencial da jogada que o argelino cria?


Análise realizada no âmbito da parceria com o FC Porto24
com a ajuda dos utilizadores BlueHeart e IdolW0rm.
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3 comentários :

  1. Muito boa análise (como aliás é habitual por aqui).
    Incrível o lance da bola ao poste do Belenenses. Acha que é possível que estes lances ainda aconteçam por ainda haver pouco entrosamento entre os jogadores? O mesmo para o posicionamento dos extremos/laterais "amarrados" à linha e a lateralização constante. Será objectivo de Lopetegui implementar, para já, este modelo de jogo mais básico e de menos risco e ir, progressivamente, acrescentando complexidade?

    Com os problemas nas bolas paradas defensivas já perdi essa esperança.

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    1. Obrigado pelo feedback, João.

      Sim, neste lance quem não se prepara bem para o cruzamento é o meio campo e é normal que este trio ainda não esteja muito rotinado neste tipo de coisas. O Imbula ainda tem que crescer neste tipo de aspeto. Não é um erro do modelo de jogo digamos assim, não é algo que o treinador queira ao contrário de outros aspetos.

      Em relação ao resto, é difícil entrar aqui pelo campo conjetural e tentar adivinhar o que o treinador pretende. Mas não me parece que isso venha a acontecer. Pelo trabalho que já se conhece de Lopetegui, é notório que o treinador espanhol privilegia os corredores laterais em detrimento da zona central para conduzir os ataques.

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  2. Sim, é bem notória a preferência pelos corredores laterais, o que, com a qualidade individual que Lopetegui tem à disposição nesse aspecto, até é compreensível. Acredito que até seja possível conseguir um futebol pouco previsível e de qualidade apesar disso (como se viu em alguns jogos da época passada). Mas infelizmente isso não tem acontecido. O que acho condenável é que essa mesma preferência leve a um abandono total de jogo interior e até ao condicionamento da tomada de decisão dos jogadores, que optam muitas vezes por lateralizar em vez de procurarem o passe vertical mesmo quando até têm boas possibilidades de sucesso.

    Curiosas algumas exibições de Quintero no início da época anterior. Em que era o único que dava sempre prioridade ao corredor central.

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