FC Porto 2-1 Chelsea FC





O FC Porto aproveitou o terreno do Dragão para arrancar uma saborosa vitória frente ao Chelsea de José Mourinho, um dos grandes treinadores da história do futebol moderno. Frente ao campeão inglês, a equipa de Lopetegui arriscou com a utilização de Indi a lateral e, uma vez mais, com André André na linha, e... deu-se bem. O Chelsea de José Mourinho, neste momento, está bastante aquém daquilo que é capaz. Porquê? Muitas serão as razões e demasiadas aquelas que podemos conhecer "cá fora". Mas não se deve menosprezar a vitória do FC Porto por causa disso. O Chelsea, a nível individual, é bastante superior. Hazard, Willian, Fàbregas, Matic, Ramires, Pedro...

As "adaptações":
André André foi igual a si próprio. Guerreiro, combativo, lutador. Colocado junto à linha, o médio português deixa que seja Maxi a dar largura e profundidade ao flanco e procura terrenos interiores onde gosta de habitar. Não tem qualidades de extremo nem é isso que se lhe pede. Não precisa de ser rápido. Precisa de ser inteligente. A sua entrega à equipa é notável.

É de Indi o corte que dá a vitória ao FC Porto, no lance final do jogo em que Diego Costa dispõe de uma oportunidade soberana para marcar. Para além disso, enfrentar Pedro e conseguir uma exibição positiva é de louvar. Há, como já lhe foi apontado anteriormente, falhas. Indi não sabe o que é uma linha defensiva e tem várias falhas posicionais. Felizmente para o FC Porto, o Chelsea procurou enfrentar Indi naquilo que ele é mais forte: 1x1, bolas nas costas...

O FC Porto conquistou uma vitória importante e só depende de si próprio para passar à fase seguinte. Lopetegui é, neste momento, o treinador do FC Porto com maior percentagem de vitórias na maior prova europeia de clubes. Mas estarão os adeptos dispostos a, uma vez mais, trocar as vitórias na Liga dos Campeões pelo título nacional? Ou será que Lopetegui conseguirá, finalmente, lutar por todos os títulos em que está inserido?


O meio-campo portista:


O FC Porto não surpreendia e assumiu, desde o início, um esquema de 4x2x3x1. Danilo, ao contrário de outros jogos, tinha menos liberdade e assumia-se como um 6 "destruidor" que pouco oferecia na transição ofensiva mas que dava liberdade aos outros dois médios para construírem e avançarem no terreno.



Com um meio campo composto por Rúben Neves, Danilo e Imbula a grande dúvida seria mesmo como estes se disporiam em campo. A verdade é que nunca houve uma estrutura verdadeiramente constante no meio-campo. Aqui, vemos como se posicionavam os jogadores portistas no início da construção do adversário. Rúben e Danilo ficavam lado a lado com Imbula a soltar-se mais para se juntar a Aboubakar na pressão.



Aqui, observamos a equipa já sem ser na pressão à primeira fase do adversário. Aqui Imbula já não fica lado a lado com Aboubakar à frente dos dois outros médios. Neste caso ele vai estar lado a lado com Rúben Neves ficando Danilo atrás dos dois médios mais adiantados. Percebe-se assim que temos 3 jogadores no meio campo com 3 funções particulares. Danilo mantém-se sempre fixo, é um 6 seja em duplo pivot ou sozinho, não arrisca a pressão, não sai muito da sua zona. Rúben Neves é quem transforma a estrutura do miolo definindo se fica ao lado de Danilo ou se junta a Imbula, sendo que o francês é o médio responsável pela pressão em zonas mais altas do terreno.


Aqui vemos um momento de pressão do Porto, com Imbula a pressionar alto, Rúben e Danilo ficam lado a lado. A bola está do lado de Rúben, que se encontra bem posicionado. Já Danilo está completamente alheado da ação colocando-se lado a lado com Rúben, não lhe dando qualquer cobertura e colocando-se demasiado afastado do centro de jogo. A azul, aquilo que seria o posicionamento correto do ex-Marítimo. Com este posicionamento Danilo desprotege completamente o espaço entrelinhas. Mas já vamos perceber porque é que isto acontecia diversas vezes.




Aqui, Rúben Neves mostra a Danilo como se faz.



Este desleixo que existia devia-se às marcações individuais existentes no meio-campo. O FC Porto procurava limitar o Chelsea na sua forma de jogar e orientá-lo: ou pelos corredores ou através de jogo direto. E conseguiu-o, em grande parte do jogo. Havia, porém, um perigo quando os médios eram atraídos para zonas mais avançadas do terreno.

Com a linha média avançada no terreno, havia bastante espaço entre linhas. Aqui, uma das jogadas que culmina com uma grande intervenção de Casillas. Com a bola a cair do outro lado, não se percebe porque é que Indi demora tanto a assumir uma posição mais favorável ou como nem procura alinhar com a linha defensiva. Diego Costa cabeceia e coloca em Willian que, de frente para a linha defensiva, só tem de colocar em Pedro.




Outro grande problema... Brahimi teve a bola bastante tempo nos pés. Quem dá apoio? Quem procura o espaço entrelinhas? Quem fica a manter o equilíbrio defensivo da equipa?



Apareceu, contudo, uma dinâmica interessante no meio-campo do FC Porto. Algo do qual se viu um leve vislumbre durante a pré-temporada e que relembra tempos mais felizes dos azuis-e-brancos. O extremo desce para dar apoio, o médio procura o corredor. Baralha marcações, arrasta marcações, cria espaços... Foi, porém, caso único no jogo.


Danilo "destruidor":

- A bola está em Maxi e este passa para André André como indica a seta na primeira imagem. A segunda seta é um exemplo daquilo que Danilo poderia oferecer à jogada. Danilo poderia dar uma linha de passe segura e imediata a André André. Melhor do que isso, estava de frente para o jogo e recebe (como se observa na segunda imagem) apoio de Rúben Neves, Imbula e até de Aboubakar. O médio português, porém, mantém-se completamente ausente da jogada. Já agora, vejam onde está Fàbregas na primeira imagem e na segunda. Dá para perceber o quanto é que Danilo procurou oferecer ao lance.



Aqui vemos uma jogada em que Danilo tenta colocar a bola em Maxi com um passe longo como é sugerido pela trajetória azul. A bola não entrou lá porque o passe foi intercetado, o que pode servir de argumento para a falta de qualidade ofensiva de Danilo, mas há ainda um outro aspeto que é importante realçar aqui. A branco vemos basicamente uma circulação de bola alternativa, com a bola a entrar na mesma em Maxi, só que a passar primeiro por Rúben neves, a entrar depois no espaço entre linhas em André André e só depois a entrar no urugaio. Qual a diferença tendo em conta que a bola vai parar praticamente ao mesmo sítio e ao mesmo jogador? Toda. Na hipótese a branco a bola vai entrar entrelinhas dando oportunidade para que André André fixe o lateral esquerdo, soltando depois em Maxi que assim ficaria numa posição privilegiada para atacar não tendo praticamente adversário direto. A bola circular por zonas interiores para depois ir fora vai permitir desequilibrar pela zona lateral com muito mais qualidade. Falta muito jogo interior ao Porto de Lopetegui



FC Porto a demonstrar como (não) se constrói:

Danilo não se apresentava como uma solução de passe. De forma nenhuma. Indi demasiado recuado. O que vai fazer Marcano? Lançar uma bola alta para Brahimi e... Ivanovic. O primeiro tem 1,75m e o segundo 1,85m. O primeiro é um jogador bastante possante e está habituado a vencer duelos aéreos. É preciso continuar...? Já agora, os jogadores para as segundas bolas?


Como se pode observar, Danilo sempre fora da jogada. Imbula ainda desce para oferecer linha de passe mas Marcano pensava que estava a jogar na Liga Portuguesa e continuava a procurar os homens da frente. Agora o duelo é entre Aboubakar, que tem 1,82m, e Zouma, que tem 1,90. Em relação à compleição física e à intensidade que colocam na disputa de cada lance nem vale a pena falar... Já agora, segundas bolas?


Se não dava resultado quando Aboubakar saltava só com Zouma, então vamos experimentar com os dois centrais. É Maicon quem faz o passe após a marcação de uma bola parada. Às vezes, o FC Porto de Lopetegui parece assumir um princípio estúpido no mundo do futebol: temos a posse de bola? Vamos tentar perdê-la o mais rapidamente possível.
Já agora, veja-se o comportamento de André André. Já lá vamos.



André André:

Quem é sempre opção para jogar dentro do bloco é André André, como se vê nesta imagem e em muitos momentos do jogo, o médio português nunca foge ao jogo e é muito inteligente sem bola dando sempre opções de passe que vão acrescentar algo à equipa. A jogar fora da sua posição tentava sempre dar o seu contributo em terrenos que costuma e gosta de ocupar.



Aqui, mais uma vez, André André recebe entrelinhas. Fantástica a disponibilidade do mesmo para participar no jogo da equipa. A imagem não parece ter nada de mal, André André recebe dentro do bloco e coloca rapidamente em Maxi. O que se quer mostrar com esta imagem é o aspeto menos positivo de André André. A sua falta de criatividade. Esta decisão até parece boa, mas se virmos bem o médio recebe a bola entrelinhas, tem espaço para progredir e solta rápido. Um jogador de outro nível teria enfrentado a linha defensiva, criando a incerteza e só depois soltado, em Maxi ou noutro jogador. André recebe e joga logo, não decide mal mas também não inventa nada do outro mundo. Para jogar tão avançado é bastante curto.




Esta jogada é o que André André é. Basicamente, um jogador que dá sempre uma boa linha ao colega, que combina muito bem neste tipo de jogadas em que tem que jogar rápido e curto mas que depois não consegue criar muito perigo no ultimo terço. Aqui, o cruzamento é intercetado pelo central. A sua falta de criatividade e o não ser um prodígio técnico fazem com que não seja um jogador de outro nível. É sem dúvida um belo jogador, intenso, trabalhador, de uma inteligência sem bola brutal, que é dotado tecnicamente apesar de não ser extraordinário e que joga simples e rápido. Mais um 8 do que um 10.






Se a pressionar o FC Porto estava muito bem, no que toca a terrenos mais recuados nem por isso. O espaço entrelinhas foi sempre muito mal defendido pelo Porto, felizmente os londrinos são uma equipa com bastantes limitações no jogo ofensivo e não o exploravam muito mas aqui vemos Willian a receber entrelinhas e em muitas outras situações houve oportunidades para o Chelsea explorar este espaço facilmente que a equipa de Mourinho foi incapaz de aproveitar. Aqui mais uma vez Danilo muito aberto e a deixar este espaço aberto. O que estava a fazer o médio português afinal? Os extremos do Chelsea são, também, muito difíceis de marcar. Ora estão no corredor, ora estão no centro do terreno, ora procuram as costas da defesa...


Martins Indi:


Na linha defensiva os comportamentos também não eram os ideais, principalmente do elemento surpresa no onze, Martins Indi. Aqui, com a bola no flanco oposto, este está a ver jogar, preocupado com o extremo adversário e não com o espaço. Não fecha minimamente dentro, deixando um enorme espaço entre ele e Marcano.



Aqui, Indi completamente descoordenado da sua linha defensiva. Para o holandês, se há um homem adversário meio perdido, há que ir ter com ele e marcá-lo. Nesta imagem, fica abaixo de toda a equipa preocupado com um adversário e a fazer com que a linha esteja completamente mal posicionada.

Perante estes erros posicionais, a maioria das pessoas vai rebater com o sucesso que Indi teve quando foi chamado a intervir e a verdade é que Indi foi considerado por muitos como um dos melhores em campo. A verdade é que ele no 1x1 é forte, muito forte fisicamente, duro, raçudo é muito difícil de bater. Como não arrisca muito a subir, é difícil batê-lo nas costas a jogar a lateral e quando solicitado no confronto físico ganha muitas vezes. Foi neste tipo de situações que ele interveio, bolas bombeadas, 1x1 com o extremo, pressionar alto, bolas nas costas. O Chelsea nunca foi suficientemente capaz para explorar a sua falta de inteligência, nunca o fez sentir-se sem referências, nunca explorou as fraquezas dele, com uma equipa que circule bem a bola, que tenha qualidade em organização ofensiva o Indi ia passar muito mal. Enquanto continuar com estes comportamentos, Indi poderá ter sucesso noutros lados... mas não no FC Porto.



Outras considerações:

Colar o extremo do lado oposto à linha? Sim... Para que este procure explorar o lado cego do lateral e para que possa fletir para zonas interiores permitindo um passe a rasgar que o coloque na cara do guarda-redes.




Danilo e Indi na expetativa, à espera de ver o que vai dar o lance entre Maicon e Willian.
Indi, como sempre, demasiado longe do lance. Não é nada com ele, o homem que ele marca está longe, certo?
Danilo vê Marcano a mover-se e não oferece cobertura na zona central, nas costas do espanhol. O lance acaba por não resultar em nada mas os jogadores do FC Porto bem fizeram por isso.


Um vídeo delicioso com várias ações do (enorme) Rúben Neves, feito pelo Honoris do Domínio Táctico.

Análise realizada no âmbito da parceria com o FC Porto24
com a ajuda dos utilizadores BlueHeart e IdolW0rm.
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