FC Porto 1 - 0 SL Benfica


Nota OnzeViolinos:
Uma análise a um jogo entre dois "grandes" deveria sair, preferencialmente, no próprio dia ou no dia seguinte. Aliás, já tivemos mesmo a oportunidade de ler e reler outras publicações que também se preocupam, tal como nós, em analisar os momentos que definiram o rumo dos acontecimentos. O facto de não o fazermos com celeridade deve-se ao facto de procurarmos ver, rever, pensar, limitar ao mínimo a possibilidade de erro e, acima de tudo, fazermos uma análise bastante completa dentro daquilo que as nossas vidas pessoais e profissionais nos permitem.

Assim sendo, boas leituras.





O FC Porto pode ter dado um passo de gigante rumo à conquista do ceptro nacional. Não pela distância pontual, que apesar de aparentar ser facilmente recuperável já tornou o SL Benfica como refém de terceiros, mas pelos níveis anímicos que se vivem, neste momento, nos corredores do Dragão. O bicampeão Benfica já está a quatro pontos e os azuis-e-brancos são figura de proa na frente do campeonato.

Parece descabido dizer-se que o SL Benfica dominou a primeira parte e o FC Porto a segunda. O domínio mede-se pela soma de todas as ações e de todos os acontecimentos. Ora, apesar da equipa de Rui Vitória ter disposto das melhores ocasiões de golo na primeira parte, tal não significa que a equipa foi superior. Até porque apenas as conseguiu através de bolas paradas (já lá chegaremos). Mas o facto de o FC Porto não ter conseguido traduzir a maior iniciativa de jogo e as chegadas ao último terço em verdadeiras oportunidades de perigo não significa, de todo, que foi dominado.

Aqui, partilha-se da opinião de que as equipas podem fazer muitos mais. Aliás, devem fazer muito mais. É isso que se espera de equipas "grandes". Há falhas, muitas falhas, que surgem não só da falta de qualidade de alguns jogadores mas, principalmente, da parte de Lopetegui e Rui Vitória.



A estrutura tática do FC Porto para este jogo era evidente desde o início, 4x4x2. Desde que foi conhecido o onze que se previa esta estrutura tática, faltando apenas saber quem cairia no lado direito e quem acompanharia Aboubakar na frente de ataque. André André foi o escolhido para jogar no flanco direito e Corona jogaria como avançado.

Do lado do SL Benfica podemos perceber um 4x2x3x1 (a atacar) que depois se transformava num 4x4x2 a defender. No momento ofenstivo, Mitroglou procurava colar-se aos centrais e Jonas recuava no terreno para oferecer clarividência e apoio no transporte da bola para o ataque.



Aos 48 segundos de jogo já podemos observar uma das grandes falhas do SL Benfica de Rui Vitória. Brahimi desce para a zona da linha média e Nélson Semedo acompanha-o... Na linha (pouco percetível na imagem) está Layún. Apesar de Gonçalo Guedes também descer, o FC Porto tem imenso espaço para explorar ali. Imbula, contudo, coloca a bola em Brahimi.


SL Benfica com as linhas muito próximos mas, sempre, com uma deficiente pressão sobre o portador da bola. Para além disso, a linha defensiva dos encarnados joga bastante adiantada de forma a encurtar os espaços entrelinhas e era natural ver-se vários jogadores do FC Porto a pedir a bola nas costas da mesma.


E quando o portador não queria arriscar um passe para as costas da defesa, Corona era o primeiro homem a oferecer apoios frontais para que a equipa pudesse progredir no terreno. Será Corona o homem indicado para tal, Lopetegui?
Na primeira imagem percebe-se que Aboubakar está a pedir a bola nas costas e Imbula sem pressão nenhuma. Percebe-se ainda que Brahimi procurava as costas de Nélson Semedo (ou ameaçou procurar). Como Imbula não arrisca, Corona e Brahimi oferecem apoio frontal. Dois jogadores do FC Porto na mesma zona para oferecerem a mesma linha de passe (segunda imagem).
Aprecie-se também a resposta do SL Benfica a esta situação. Nélson Semedo e Luisão apenas se preocupam com o seu homem. Consegue perceber-se o espaço criado entre Luisão e Jardel e o potencial da jogada caso Imbula arrisque o passe por ali?



Porque é que Rúben Neves desce no terreno para uma zona onde já se encontra Maicon é algo que nos ultrapassa e que, provavelmente, nunca iremos compreender. Para além disso, veja-se a liberdade que o movimento de Rúben Neves oferece a André Almeida que pode, assim, pressionar André André à vontade.



Pouco depois acontece isto. André André pressionado, entrelinhas. Perdeu a bola? Não. Há treinadores com aversão ao espaço entrelinhas. Perde-se mais vezes a bola? Claro que sim. Pode colher-se maiores frutos? Sim, claro! As vantagens sobrepõem-se às desvantagens? Claro, que sim! É de aproveitar, sempre!
Aprecie-se, para além disso, Corona, uma vez mais, a oferecer apoio frontal. E, de repente, André André fica com a bola controlada e com espaço para pensar e executar.



Mitroglou pode ter qualidades a explorar. Aprecie-se a movimentação do avançado depois de fazer o passe.
Da parte do FC porto, Maxi é que é obrigado a descer para marcar o grego... Que é isto, Lopetegui?

- Corona, uma vez mais, a oferecer apoio frontal;
- Distância entre Jardel e Luisão;
- Número de jogadores de cada equipa;

Dois? Para quê?


Esta é a imagem perfeita para demonstrar o que Lopetegui queria ou pelo menos parecia querer. Ruben Neves a ser o primeiro homem a pegar no jogo, Imbula garantia a estabilidade no meio campo sem ter liberdade para grandes aventuras. Depois tínhamos André André com a missão de se manter avançado no terreno e ter capacidade para aparecer rapidamente em zonas de finalização ou a dar uma linha de passe junto da área adversária, mas ainda assim a tentar ligar meio campo e ataque. A partir do flanco demonstrou sempre muita dificuldade em ligar setores. Brahimi garantia sempre largura, tentando a equipa que este desequilibrasse individualmente no flanco esquerdo. Os dois avançados procuravam explorar a profundidade quase sempre.


O que ganhava o Porto com esta estratégia que tanta coisa tirava à equipa? Capacidade de ter profundidade e chegar rápido, ainda que com pouca qualidade e poucas vezes ao ataque. Aqui Corona ganha as costas a Eliseu, depois de um passe longo de Maxi, FC Porto com bola à entrada da área benfiquista em poucos segundos, mas depois de lá chegar cabia ao jogador resolver individualmente.
Percebe-se agora o porquê de o FC Porto não ter conseguido criar mais oportunidades de perigo? Porque não chegava com qualidade ao último terço.


Outra das vantagens dos quatro da frente terem poucas preocupações com a construção era que estavam sempre disponível para aparecer a finalizar, como podemos verificar nesta imagem. Poucas vantagens para tantas desvantagens.



Aboubakar procurava, por vezes, ser excepção. Apesar de não o fazer com tanta frequência, estava preocupado em participar na construção e fazia-o com grande qualidade. A confirmar que é dos melhores jogadores da equipa e a fazer mais um grande jogo. No entanto, o seu contributo era insuficiente perante um modelo/estratégia que privilegiava o jogo por fora do bloco e a procura da profundidade.

É provável que Lopetegui já tenha percebido que Mitroglou é um jogador de classe mundial. Veja-se a preocupação do treinador espanhol para com o grego.



A distância entre a linha média e a linha avançada do FC Porto é realmente algo admirável no FC Porto... De deixar os cabelos em pé a qualquer adepto portista. André Almeida pode receber à vontade, sem qualquer pressão, e colocar numa zona do terreno menos povoada.


Jardel acompanha Aboubakar e... espaço. Demasiado espaço para uma equipa que se diz "grande", caro Vitória.
Há pouco tempo, o Tottenham fez isto contra o Sunderland. Com jogadores como André André ou Imbula não seria de esperar que a equipa do FC Porto fosse capaz de fazer algo parecido tendo em conta a deficiente forma de defender dos encarnados?



O momento chave do jogo e o sobressair daquele que se tornaria no MVP da partida ocorreu por volta do minuto 25. André André passa para o centro (onde deveria jogar sempre, para o bem do futebol) e Corona assume o flanco direito. Nenhuma troca poderia alterar dramaticamente a falta de qualidade em organização ofensiva da equipa, mas a qualidade do ex-Vitória trazia a capacidade de ter um elo de ligação entre meio campo e ataque e muito de vez em quando um bocadinho de jogo interior.


Nesta imagem é possível perceber que o português trazia muito mais à equipa nesta zona do que no flanco e dava muito mais soluções que Corona. Como já seria de esperar, como é óbvio. Sempre disponível para receber a bola, aqui a dar uma excelente linha de passe e a permitir o início de uma transição rápida.
Sr. Lopetegui, é um crime encostar André André a uma ala.


Ainda que André André não prime pela sua criatividade, os azuis-e-brancos, com ele naquela zona, ganham um jogador sempre a dar soluções, capaz de dar apoios frontais, de jogar entrelinhas e de fazer mesmo o último passe como é visível na última imagem. Claramente o MVP e a mudar a qualidade de jogo da equipa.
Na última imagem percebe-se que um jogador com a bola controlada e (apesar de aqui se encontrar com pressão) só com a linha defensiva pela frente consegue quase sempre criar perigo e lances com grande potencial. Porque é que o FC Porto de Lopetegui procura pouco este tipo de jogada? Nunca iremos descobrir.


A primeira coisa que Maicon procura quando tem a bola nos pés é o flanco contrário. Mesmo que não valha a pena colocar a bola lá, como se pode ver neste exemplo! Mediocridade ao mais alto nível...
Já agora, e como gostamos de partilhar blogs que valem a pena ser seguidos, aqui têm o Domínio Tático a demonstrar o que é o FC Porto de Lopetegui.



Em mais uma imagem que nos permite aferir a inteligência de André André, vemos também aquilo que continuava a ser o jogo do Porto Extremos a dar apenas largura e profundidade e apenas um jogador preocupado em jogar dentro do bloco. Na figura realça-se Corona, com a bola no lado esquerdo, está colado à linha do lado direito, não contribuindo em nada para o jogo da equipa, foi assim desde que passou a jogar no flanco, sem qualquer tentativa de sair da linha, esperava apenas que a bola lá chegasse para resolver no 1x1. Passou, compreensivelmente, ao lado do jogo.


O extremo do lado oposto, Brahimi, foi também ele dos piores em campo. Se a desinspiração individual é inegável, o comportamento da equipa também em muito contribui para a sua má exibição. Como podemos verificar nestas duas imagens, Brahimi estava constantemente amarrado à linha, recebendo sempre a bola fora do bloco. Perante isto era-lhe pedido que desequilibrasse, no entanto este estava sempre perante situações de 1x2 ou 1x3 tendo como outra hipótese que não ir para cima jogar para trás. Torna-se muito difícil a tarefa de um jogador destes.


Foi uma constante, ao longo do jogo. O que foi demonstrado, em cima, aos 48 segundos, volta a acontecer aos 53'44''. Um passe bem feito e imagine-se o potencial.
Para além disso, Marcano começou a ser mais solicitado para iniciar a construção.


Na primeira imagem o FC Porto está a defender com quatro e Imbula está a chegar. Podem contar-se 5 jogadores azuis-e-brancos para 4 encarnados.
Dois segundos depois, Casillas lança o contra-ataque e o FC Porto ataca com três homens (Maxi nem procura integrar-se no ataque) para 6+1 do SL Benfica. Varela tem espaço para jogar, para pensar, para executar. Onde está Brahimi?


Aboubakar desce para dar apoio e Luisão, quando se apercebe, vai atrás dele que nem um cão raivoso. É só colocar André André na cara de Júlio César.



Eliseu escorregou e foi ultrapassado no meio-campo e a jogada acaba por ser criada pelo flanco onde ele devia estar. Jardel é obrigado a fazer a dobra para colmatar a falha mas André Almeida nem se preocupa em compensar a falta de Jardel na área. O FC Porto vai acabar por ficar em superioridade numérica dentro da área com Brahimi a aparecer sozinho na zona do segundo poste.
Varela tinha entrado há poucos minutos. O rumo dos acontecimentos acabaria por mudar porque, ao contrário do mexicano, Varela é muito menos talentoso mas dava-se muito mais ao jogo e não estava colado à linha, movimentando-se de forma inteligente.
Aliás, segundos antes é ele que dá início à transição:



Aqui, a cair do lado esquerdo e a colocar Brahimi em boa posição. Não sendo um jogador do outro mundo, entrou e com a sua experiência e inteligência foi uma mais-valia porque se deu muito ao jogo e sempre com critério.


BPD do FC Porto:

É incrível como Lopetegui continua a apostar na defesa HxH nas bolas paradas defensivas. Para além disso, se colocar Rúben Neves (1,80m) com Mitroglou (1,88m) já parece ser um erro, colocar Maxi Pereira (1,73m) com Jardel (1,92) é o cúmulo dos cúmulos.
Basicamente, o treinador do FC Porto estava a pedir para que os encarnados conseguissem marcar golo numa BPO. Foi assim que o SL Benfica criou as duas oportunidades mais flagrantes na primeira parte.


Esta é a forma do FC Porto defender as bolas paradas, 3 homens com referências zonais, que se encontram na pequena área e todos os outros marcam um homem.


Aqui na imagem podemos perceber algumas das desvantagens dessa forma de marcar nas bolas paradas. A vermelho temos a linha que a bola percorreu  e a branco, um caminho alternativo e igualmente perigoso. No círculo vermelho podemos ver dois jogadores, Rúben Neves marca Mitroglou, há aqui uma clara desvantagem para o português que é muito mais fraco no jogo aéreo que o grego. Se não fosse uma bela defesa de Casillas, Mitroglou teria feito golo. Na situação a branco, Luisão libertou-se de Marcano com um bloqueio de Samaris e encontrava-se solto de marcação. Duelos desequilibrados e facilidade em quebrar a marcação individual com bloqueios demonstram a fragilidade na forma como o FC Porto defende as bolas paradas.

Outras considerações:

Outro aspeto que foi visível neste jogo foi a distância entre os setores portistas. Aqui vemos que se o SL Benfica fosse uma equipa muito melhor trabalhada, poderia muito bem ter aproveitado o espaço onde apenas se encontra Rúben Neves. Com tão pouca pressão sobre os dois centrais, porque é que Eliseu e Semedo não estão mais avançados no terreno? E os extremos encarnados não poderiam dar opção de passe dentro e oferecer a ala para o lateral?


Aqui é percetível a passividade do FC Porto a defender. Linhas afastadas e todo o tempo do mundo para André Almeida executar e pensar, a vermelho assinaladas movimentações que quebrariam metade da equipa do Porto.

Perda de bola? Pressão imediata no portador e procurar reduzir o espaço. Outro aspeto a realçar na equipa de Lopetegui é a incapacidade de a equipa ser rápida e agressiva a reagir à perda, com 6 jogadores na zona da bola o caminho para tirar esses 6 da jogada era mais do que óbvio. E fácil.
Em Kiev, por exemplo, conseguiu perceber-se, em vários lances, o quão fácil se torna de sair de uma zona de pressão e apanhar a equipa azul-e-branca desprevenida.



Análise realizada no âmbito da parceria com o FC Porto24
com a ajuda dos utilizadores BlueHeart e IdolW0rm.
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