Arsenal 1-0 Chelsea

Mourinho disse que perdeu a melhor equipa. Estou longe de concordar com um dos treinadores que admiro desde sempre. Não, Mou... não perdeu a melhor equipa. Pode ter perdido o melhor conjunto de individualidades, isso sim. A melhor equipa? Este é o jogo perfeito para perceber que a melhor equipa, aqui, vestiu de vermelho. E, felizmente, venceu.


Aprecie-se o posicionamento de ambas as equipas. Chelsea a fazer "campo-pequeno", a bascular na direção da bola. Bola a fugir para o outro lado, Willian e Ivanovic a fechar ao meio. Veja-se também os médios do Arsenal, com espaço para receber e jogar à vontade, nas costas da linha avançada. Um em apoio, outro pronto a receber no espaço.


Apesar de se encontrar dentro de uma teia de cinco jogadores do Chelsea, Ramsey recebe, domina e vira-se de frente para o jogo. Isto tudo feito sem qualquer pressão dos jogadores dos jogadores do Chelsea (Img. 1).Assinalado a azul, Ozil e Walcott a jogar entre-linhas. Aqui repare-se que como o Chelsea joga com uma defesa média-alta, Walcott procura as costas da defensiva contrária e obriga-a a descer no terreno, arranjando espaço para Ozil  receber à vontade. Inteligência coletiva...


Os dez jogadores do Arsenal na mesma imagem. Ramires e Matic atrás, sem grande interferência na criação. Deixar um jogador como Matic fora destas ações...  Para além disso, Ozil desce para atacar o "lado cego" de Willian que tem noção que Fàbregas está ao seu lado mas não vê o alemão aproximar-se. Na altura certa, no momento certo, Ozil interceta o passe de Willian para o internacional espanhol.


Conte o número de jogadores do Chelsea e o número de jogadores do Arsenal. Num momento em que a equipa do Chelsea recupera a bola, com Willian de costas, o Arsenal sobe no terreno em vez de descer e se organizar. Willian tem poucas soluções, cada uma mais perigosa do que a outra. Coquelin acaba mesmo por quase roubar a bola mas no meio de tanta confusão, a possibilidade de ganhar ou perder o lance é igual para os dois lados. O que faz pender a balança para o lado arsenalista é a zona do terreno em que ele decorre.


Para uma equipa que se quer assumir como grande, o Chelsea coloca poucas unidades em terrenos mais avançados e entre-linhas. Enquanto estiverem de frente para a linha média, mais facilmente esta a controla.


Arsenal com a posse de bola, a iniciar a construção. Veja-se onde se encontra o lateral direito Bellerín.


O espaço com que Ramsey recebe e roda no meio campo é assombroso. Chelsea sempre na expetativa.



É o lateral esquerdo, Monreal, que inicia a jogada e procura finalizar. Há um jogador (não consigo perceber se é Cazorla ou Ozil) que procura aproveitar o espaço deixado por Ivanovic nas costas e oferecer apoio frontal. O passe é de risco (feito no meio de três jogadores do Chelsea) mas com o Arsenal tudo parece fácil. Vários apoios, interiores e exteriores, joga e devolve para o jogador que está de frente. 

No seguimento da jogada, que não dá em nada, veja-se os comportamentos individuais ao serviço dos comportamentos coletivos. Passa, devolve, arrasta marcação. Passa, devolve, mantém posição caso seja necessário servir novamente de apoio. Nada é feito ao acaso. 

O golo do Arsenal.
Agora é Ramsey que procura a profundidade e deixa Walcott à vontade para receber. Repare-se que Ramsey procura entrar nas costas do defesa central mais afastado, o que prende a atenção do defesa esquerdo do Chelsea, Azpilicueta.
Vamos então ver as consequências deste movimento...

Walcott completamente livre, no centro do terreno. 2+1 jogadores à mercê de Ramsey. O médio colocou-se à frente do central mais afastado porque já tinha arrastado Azpilicueta. É altura de roubar a atenção de outros. Logo depois?

Walcott recebe, livre, no centro do terreno. Pode jogar para o outro lado, onde não há tanta presença de jogadores do Chelsea. Aqui, já se começa a ver Bellerín a integrar-se com o ataque, apesar de já se notar a subida do lateral direito nas imagens anteriores. Subida que acabou por ser vital.

Como Terry saiu ao encontro de Walcott, para lhe limitar as ações, Matic compensa o lugar do defesa central oferecendo cobertura a Azpilicueta, que se encontra numa situação de 1x1 com Chamberlain. É aqui que a ação de Bellerín faz toda a diferença, ao arrastar Matic, libertando espaço no centro do terreno. Espaço aproveitado por Chamberlain.
Para além disso, veja-se também que Walcott "prende" Terry.
O resultado? Golo

Terry longe, Matic arrastado e espaço para Chamberlain rematar cruzado. Golo.

Tudo. Tudo é perfeito, tudo é decisivo.


Obedecer às regras... isso já não faz parte. Cech percebe que o seu posicionamento longe da baliza é mais valioso. E levanta os braços para que seja notado. Um lançamento para ali pode ir muito bem parar às mãos do guarda-redes...


Passa, dá em quem está de frente... não, no Chelsea isso não acontece. Recorre-se à inspiração individual. Aqui, a melhor jogada da primeira parte da equipa de Mourinho. Inspiração de Ramires que fica bastante aquém daquilo que o Chelsea é capaz.


Como não apreciar o trabalho de Ramsey? Aqui venera-se o trabalho individual de um só jogador ao serviço do coletivo. Ramsey mantém-se nas costas do brasileiro e vai "jogando" com o "lado cego" e o movimento corporal de Willian. De repente... ataca o espaço, deixando Willian "nas covas". Como desposicionar um jogador e uma linha defensiva completa? Perguntem ao Ramsey.


Bellerín começa a correr sem saber quais os frutos que pode recolher. Interessa-lhe apenas juntar-se ao ataque, à linha média dos arsenalistas. Um lateral direito... veja-se a disposição do meio campo.

Um apoio de costas para a baliza e de frente para a jogada, outros dois de frente para a baliza para progredir. Sem pressão, livres para jogar. Mourinho? Quem és tu? Não te reconheço...

O que está de costas (de frente para a jogada) recebe, atrai e solta logo para quem está de frente para a defensiva contrária. Parece tão fácil... Parece, acima de tudo, que o Arsenal está a jogar contra uma equipa do recreio lá da escola!

O portador da bola é o lateral direito. Admirável, Wenger... de frente para a linha defensiva, com a bola controlada e com espaço para progredir.

Ah, tivesse Bellerín a mesma capacidade que os médios. A bola deve ser jogada para o espaço, não para o pé. E, acima de tudo, progredir fixando Azpilicueta e jogando no Chamberlain. Perdeu-se uma jogada de enorme potencial mas que, apesar de tudo, só existiu porque Bellerín se juntou à linha média.


Arsenal em organização defensiva. Linhas muito próximas, um "vagabundo" entre-linhas".


Com os apoios todos condicionados, Hazard (veja-se a posição de terreno que o maior criativo do Chelsea ocupa) joga pelo ar, longo. Parece óbvio aquilo que vai acontecer...

Dois jogadores do Chelsea com marcação direta e um jogador do Arsenal a cortar a bola. 

Liberdade para receber e executar. Veja-se, também, a liberdade que outros jogadores do Arsenal têm mesmo no momento em que recuperam a bola.

Referenciado a azul, na primeira imagem, está Hazard. A vermelho, o jogador que recebe a bola de frente (ver imagem anterior). Tantos jogadores do Arsenal para tão poucos jogadores do Chelsea. Tanta facilidade em encarar a baliza a e a linha defensiva adversária. Assim fica demasiado fácil para a equipa de Wenger. Walcott arrasta a marcação dos dois centrais com um movimento. Como Ivanovic estava demasiado longe, há muito espaço para Ozil se desmarcar e poder receber a bola. E é para lá que ela vai (não seria de supor outra coisa com tanto espaço para pensar e executar). Infelizmente, Ozil não consegue dominar a bola... mas o potencial estava todo lá.


Aqui, começa uma das jogadas com mais perigo do Chelsea e uma grande falha da equipa arsenalista... uma falha com um nome: Cazorla.

Cazorla oferece cobertura interior em vez de descer para ocupar o espaço livre deixado por Monreal. 

Monreal continua a acompanhar Ivanovic enquanto este desce no terreno com a bola controlada. Cazorla, nesta situação, tem de assumir a posição de lateral esquerdo garantindo equilíbrio à equipa e assegurando que não fica ali um "buraco". Mas...

Cazorla não percebe que deve compensar. Aqui, nesta imagem, vê-se Cazorla a subir e Monreal a tentar recuperar o mais rapidamente possível. Muito rápido mas insuficiente para garantir o equilíbrio. Hazard já está completamente sozinho, uma vez que não estava ali ninguém. 


Uma, duas, três, quatro... só falta perguntar ao portador: "Queres mais?"

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