Sporting CP 2-0 FC Porto




Antes de tudo, queremos pedir desculpa pela análise menos completa e algo superficial ao clássico do último sábado. As festividades e os compromissos profissionais e escolares têm ocupado bastante tempo e acaba por ser refletir no trabalho realizado.


O Dragão está debaixo de fogo. Apesar de ocupar a segunda posição do campeonato e registar um número de pontos bastante assinalável, Julen Lopetegui continua sem convencer as hostes portistas. No clássico do último sábado, Jorge Jesus voltou a demonstrar porque é que é o melhor treinador em Portugal e conseguiu controlar grande parte do jogo frente a um FC Porto que continua a viver imenso das individualidades.

Bastante curiosa a forma como o FC Porto encarou o clássico. O onze titular e a abordagem ao jogo acabaram por ser previsíveis e ir ao encontro daquilo que já se escalpelizou aqui em outros jogos. Herrera junto a Aboubakar, a procurar a profundidade e a oferecer a zona central para que Corona e Brahimi a explorassem. O plano acabou por sair furado porque o Sporting foi igual a si próprio. Muito bom na ocupação de espaços e maior número de jogadores na zona da bola (já lá vamos). A zona central encontrava-se bastante povoada o que acabou por limitar as ações dos dois extremos portistas. Com uma defesa média-alta, como já é habitual, o Sporting foi conseguindo reduzir espaços. Espaços que Brahimi ainda teimou em encontrar, porém, pouco apoiado pelos colegas, acabou por ver o seu trabalho a não ser recompensado.

No segundo tempo a abordagem acabou por ser algo diferente. Lopetegui recuou Herrera e pediu aos laterais para se integrarem mais no ataque. O treinador do FC Porto parece continuar sem perceber que mais do que táticas e abordagens, o que conta são os princípios e as ações que a equipa treina.

Há outro aspecto também relevante na abordagem do FC Porto ao jogo. A procura pela profundidade e pelas costas da defensiva contrária. Perante um Sporting perito em controlar o espaço nas costas da defesa (não fosse esta uma equipa à lá JJ) torna-se um bocado incompreensível a procura incessante por este tipo de jogo. Mesmo a oportunidade em que Danilo consegue finalmente colocar a bola nas costas acabou por ter algum sucesso devido a fatores bem especiais (também já lá vamos).


Destaques individuais

Danilo - O médio português é, tal como a própria equipa, capaz do melhor e do pior e, no clássico, está mais ligado aos melhores e aos piores momentos. Pelo lado bom, destaque para o passe que coloca Aboubakar frente a Rui Patrício e para o passe que deixa Maxi nas costas da defensiva contrária (lance em que o lateral está fora de jogo).
Pelo lado mau? O pouco que oferece à construção e que tem vindo a ser tão falado aqui. Tem imenso receio de recuar para buscar jogo e para receber a bola de costas. Para além disso... aprecie-se a forma como coloca "intensidade" no seu jogo em dois lances capitais: a bola de Adrien ao poste e o 2º golo dos leões.

Aboubakar - Lopetegui não tem culpa que o camaronês não marque as oportunidades. Tem culpa no sentido em que não consegue colocar a equipa a chegar com mais qualidade ao último terço. Contudo, como podemos culpar Lopetegui quando Aboubakar oferece tão pouco ao jogo? Falha quando está perante o guarda-redes, oferece pouco ao jogo, não faz diagonais para arrastar marcações...

Brahimi - O argelino tentou. O talento continua todo lá! Não com muita regularidade mas a espaços. Brahimi conseguia fixar dois ou três jogadores mas depois ficava sem saber o que fazer. Até porque a equipa também não lhe oferece grandes opções. Para além disso, continua a fazer algo que já lhe foi apontado aqui no início da época: não sabe quando deve guardar e quando deve soltar a bola. Com Jesus como treinador, Brahimi estaria ao nível dos melhores.

Bryan Ruiz - Uma delícia ver o costariquenho a jogar. Encanta poucos porque joga demasiado simples mas tudo o que faz tem um objetivo: aproximar a equipa do golo. O passe que realizou para o segundo golo de Slimani foi só mais uma das delícias com que presentou os sportinguistas e adeptos do futebol.

João Mário - Liberdade. João Mário foi um autêntico quebra-cabeças para o FC Porto e foi por sua causa que o Sporting criou grandes dificuldades aos portistas. O talento português "esqueceu-se" de jogar fixo na linha e acabou por baralhar marcações e fixar adversários. Somando-lhe a intensidade mental com que joga, a forma como antecipa os movimentos e as ações dos colegas catapultaram-no para um exibição de topo.

Naldo - Esta deverá ser a grande surpresa destes destaque individuais. Naldo foi um monstro na defensiva leonina. Aboubakar teve um jogo mau porque Naldo se transcendeu. O melhor jogo com a camisola do Sporting.




Sem bola, era esta a organização defensiva do Sporting. Dez jogadores num pequeno espaço de jogo... Torna-se complicado para Corona e Brahimi brilharem na zona central, certo?

O FC Porto não está minimamente preparado para explorar o contra-ataque. Aboubakar está pronto para explorar as costas da defesa e Corona foge em vez de oferecer apoio.
Mas há muito mais para ver nesta situação em específico... Veja-se a diferença nas respostas dadas pelas duas equipas à situação. O número de homens do Sporting que recuam no terreno e o número de homens do FC Porto que se integram no ataque. Assim torna-se fácil, certo?



A bola chegou com qualidade a Aboubakar e o camaronês tem possibilidades de colocar a bola na linha em Corona. O que é que acontece? Aboubakar falha o passe... Lopetegui não tem culpa disto. Era um passe demasiado simples para não ter sucesso. O avançado dos dragões está em claro sub-rendimento.



Brahimi tem espaço para receber e para progredir para o centro do terreno. Há espaço e há apoios. O que faz o argelino? O que se costuma fazer no FC Porto... ir para a linha só porque sim.



Lopetegui não tem culpa que Corona não identifique a melhor solução neste lance. Um passe de primeira para Aboubakar colocaria o camaronês em excelentes condições para finalizar.



Dois jogadores a realizarem a contenção e Danilo na cobertura. Até aqui, tudo bem. Contudo, no momento em que foi retirada esta imagem, Maxi já deveria ter assumido uma postura mais agressiva para com o portador da bola. Há superioridade numérica e os jogadores estão no sítio certo.



Maicon tem três linhas de passe bastante fáceis que permitiam manter a posse de bola. Contudo, o capitão do FC Porto prefere fazer aquilo que faz sempre e que traz poucos ou nenhuns resultados (precisamos mesmo de dizer o que é?). Resultado? Perda da posse de bola.
Destaque também para Layún e Brahimi, do outro lado do campo...



Ocupação dos espaços, superioridade numérica na zona da bola, contenções, coberturas...
Do lado do FC Porto? Falta de soluções e recurso ao trabalho individual.



Corona oferece a linha a Maxi e recua para combinar. A jogada era bastante simples e permitiria que Rúben Neves ficasse com imenso espaço para progredir e com a bola controlada. O que é que o capitão do FC Porto vai fazer? Procurar a profundidade. Resultado? Perda da posse de bola. Para além disso, veja-se Herrera e Aboubakar a procurarem as costas da defensiva contrária. Porque é que não se define um para procurar a profundidade e outro para oferecer apoio?



Havia momentos em que o FC Porto conseguia ter superioridade numérica na zona da bola e uma postura agressiva para a recuperar. Maxi, Herrera e Corona sobre João Mário e Rúben na cobertura.
Veja-se o posicionamento de Danilo e o espaço que existe nas costas deste. Tendo em conta que Rúben já está a realizar a cobertura, porque é que Danilo tem de se colocar tão perto? É este o duplo pivot do FC Porto?




Este é o lance em que Danilo consegue finalmente explorar as costas da defensiva contrária e que poderá dar azo a alguma discussão. Será que foi a melhor opção a tomar só porque criou algum perigo? Vamos tentar perceber o contexto:
- Brahimi acabou de fixar três adversários e conseguiu criar espaço nas costas da linha média do Sporting. Passou para Danilo que tem duas opções viáveis a tomar. A primeira era devolver o passe permitindo que Brahimi tivesse a bola controlada e ficasse de frente para a linha defensiva contrária. A segunda foi a opção tomada. Procurar as costas da defensiva contrária.
Pessoalmente, preferia a primeira. Até porque a segunda acaba por surgir em circunstâncias muito especiais, isto é, devido às características físicas de Aboubakar. Na segunda imagem pode ver-se que a bola já saiu dos pés de Danilo, o camaronês ainda está de costas para a zona onde a bola vai cair e os centrais leoninos já têm os apoios orientados. Acabou por criar algum perigo mas... e se Patrício não tivesse saído? Teria, Aboubakar, capacidade para aguentar a pressão de dois adversários até à altura do remate?
A discussão está aberta.



A bela defesa em linha do FC Porto. Acontecia o ano passado e continua a acontecer este ano. É para durar? Com Lopetegui... provavelmente.



Diz-se por aí que Danilo foi o elemento em maior destaque no FC Porto. Talvez tenha sido... para quem pensa que o jogo só se joga com a bola.
É inadmissível a abordagem do jogador português nestes dois lances. É um monstro físico e fortíssimo no 1x1? É verdade. Mas isso de pouco serve quando não se sabe ocupar os espaços e se é pouco agressivo na abordagem aos lances.


"Intensidade, que as pessoas falam, é o esforço, é a agressividade, que muitas vezes não levam a nada, se do outro lado, estiver a inteligência, a velocidade de raciocínio e execução."






Análise realizada no âmbito da parceria com o FC Porto24
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