Arouca 1-3 FC Porto




O FC Porto é uma caixinha de surpresas. No último dia do mercado de transferências, aterraram no reino do dragão mais dois reforços que podem começar a ser presença assídua do onze de Lopetegui. Destaque (óbvio) para Corona que, para além dos dois golos que marcou, demonstrou poder vir a ser uma das grandes referências azuis-e-brancas no campeonato.

Mas a surpresa não recaiu apenas sobre os dois reforços dos dragões. A maior surpresa de todas estava na posse de três homens. Três homens que protagonizaram um meio-campo que anseia por mais minutos. Critério, dinâmica, construção apoiada, capacidade de chegar com a bola controlada ao último terço... E tanto potencial. Veremos quantas vezes se irá repetir um meio-campo de André André, Imbula e Rúben Neves e até mesmo o duplo pivot.



Marcano e Aboubakar na construção

Neste jogo vimos o central espanhol a exibir toda a sua classe ao nível da construção, fazendo aquele que foi provavelmente o melhor jogo ao serviço do FC Porto neste aspeto. Ao contrário do que sucedera em muitos jogos com Lopetegui, em que os centrais circulavam apenas para o lado e para trás, Marcano fez tudo menos isso. Sempre que recebia, orientava em direcção à baliza adversária e tentava rasgar o máximo de linhas possível.

Podemos ver aqui também quem é o parceiro perfeito para o central. Aboubakar, o mesmo que o ano passado só se preocupava em explorar o espaço nas costas da defesa, hoje passa o jogo a dar apoios frontais, como teremos ainda oportunidade de ver mais à frente. Podemos ver na segunda e na terceira imagem, dois momentos do jogo de grande mérito por parte destes dois jogadores que tiveram um papel preponderante na primeira fase de construção portista.

Marcano tinha opções de passe mais seguras mas que não iam acrescentar nada. Assim, optou pelo correto, jogar com um passe rasteiro vertical retirando vários adversários do caminho, passe que utilizou várias vezes durante o jogo.

Mas não só de passes curtos verticais para Aboubakar se fez a construção de Marcano.


Aqui vemos um passe brilhante de Marcano onde retira 5 homens do Arouca do jogo. É isto que se pede a um central a construir. Bola em Marcano, orienta, Corona dá o corredor a Maxi, este sobe e passe milimétrico de Marcano.


E no corredor contrário?  A mesma coisa. Este lance é o lance do segundo golo do Corona.
Marcano explora a profundidade de Layun e este põe em André André que faz o remate. Corona, na recarga, faz o segundo.
Este tipo de acções ganham jogos. Mais que uma finta estupenda ou um remate do meio da rua, estas exibições são a chave.



Aboubakar e os apoios frontais

Já vimos três apoios frontais bem executados por Aboubakar e percebemos a importância que assumiu na primeira fase de construção. Mas o avançado passou o jogo a tentar explorar o espaço entrelinhas e a dar linhas de passe. É fenomenal, ainda mais para quem não tinha estas noções.


A juntar às três imagens que já tínhamos colocado, temos agora estas onde aparece Aboubakar a posicionar-se de forma excelente para dar seguimento ao jogo coletivo. Em lançamentos, era a referência para segurar, noutros momentos dava linhas de passe para tabelas e procurava constantemente apoios frontais como podemos ver aqui nestas imagens.


Pressão

Este foi provavelmente o jogo em que vimos uma mudança de paradigma mais acentuada de pressionar a primeira fase de construção adversária. Assumimos neste jogo um claro 4-4-2/4-2-3-1 a defender, com os dois homens da frente encarregues de pressionar os centrais. É fácil verificar isso logo na maneira como iniciamos o jogo.

Aqui, claro 4-4-2. O Porto muda, para pior ou melhor ainda não podemos concluir, mas vamos já verificar que as diferenças em relação ao ano passado e até a outros jogos desta época existem.


Este posicionamento é o adotado pela maioria das equipas que jogam com dois pivots. Normalmente, é sempre um médio que se junta ao avançado para fazer pressão mas no Porto não era bem assim. Houve momentos em que o avançado pressionava um central e o extremo do lado oposto da bola pressionava o outro. O problema? Se a pressão não fosse bem feita era fácil sair pelo corredor lateral e isso expunha a equipa.
A pressão saiu mal neste jogo e não acho que se possa atribuir uma boa nota nesta parte do jogo. (BlueHeart)

A bola aqui entra no espaço entrelinhas. Não foi caso virgem, tendo em conta que os dois homens da frente nunca foram particularmente agressivos a pressionar. Não pressionavam cedo, davam tempo para pensar, havia alguma distância entre setores e a equipa era batida com estes passes verticais. Acho que devemos ser mais agressivos na pressão, não pressionar sempre mas pressionar mais alto e com zonas de pressão mais bem definidas.
Mas acho que há um jogador com dificuldades em entender a forma mais correta de pressionar e a ficar um bocado deslocado da linha média. Isto e a pouca agressividade não correu bem. (BlueHeart)

Atentando primeiro no aspeto da passividade percebe-se que devíamos estar bem mais subidos na primeira imagem. Depois, percebe-se também que Brahimi não cumpre o posicionamento da linha média, e fica sempre mais subido. Preguiça? Era a justificação mais fácil mas talvez sejam mesmo vícios mais antigos como vemos na segunda foto. A bola entra no central, devia ser Aboubakar ou André André a pressionar, quem estivesse daquele lado. Mas é Brahimi que sai dos 4 do meio campo para pressionar. Se a bola entra nas suas costas, corredor lateral desprotegido.
Com Brahimi assim e com o frágil Layun por trás, muito cuidado com este flanco contra equipas perigosas. (BlueHeart)



Outras considerações


Uma das fortes características das grandes equipas é ser capaz de ditar o posicionamento do seu adversário, isto é, atrair o adversário para uma certa zona do terreno para depois colocar a bola em zonas mais desprotegidas. E é por isso que faz sentido ter a posse de bola. Porque há facilidade de atrair o adversário para essa zona.
Luis Freitas Lobo afirma que o FC Porto chega ao golo através da dinâmica dos avançados mas o golo começou muito antes disso. Começou, efetivamente, nesta troca de bola entre André André e Imbula e, depois, na movimentação de Rúben Neves. A dinâmica do meio-campo também passa por isto.



A diversidade de movimentos é uma coisa bastante importante uma vez que oferece um maior leque de possibilidades a uma equipa. Aqui, pode perceber-se que Aboubakar arrasta a marcação consigo e abre um grande espaço entre o central e o lateral. Espaço esse que não é aproveitado pelo extremo do lado oposto uma vez que este fica colado à linha devido a ordens do treinador. Há potencial para crescer por aqui.


Análise realizada no âmbito da parceria com o FC Porto24
com a ajuda dos utilizadores BlueHeart e IdolW0rm.
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